Pãozinho mais caro? Saiba como revogação de acordo de grãos na Ucrânia afeta Santa Catarina

O pão nosso de cada dia pode ficar mais caro nas próximas semanas, segundo economistas. O aumento é resultado da revogação feita pela Rússia, no último dia 17, do acordo que “segurava” a alta no preço dos grãos por conta da guerra na Ucrânia. O trato permitia que trigo, milho e outros grãos ucranianos bloqueados pelo conflito fossem transportados pelo Mar Negro com segurança.

Pão de trigo pode ficar mais caro nos próximos dias após desdobramentos na guerra da Ucrânia e fim de acordo de grãos - Foto: João Lombardo/Arquivo Pessoal/ND

Pão de trigo pode ficar mais caro nos próximos dias após desdobramentos na guerra da Ucrânia – Foto: João Lombardo/Arquivo Pessoal/ND

Segundo o economista-chefe da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), Pablo Bittencourt, o brasileiro pode sentir no bolso as mudanças no cenário global com o fim do acordo.

Isso porque o preço do trigo, por exemplo, componente básico da alimentação no país, deve subir. O aumento é uma resposta global frente aos desdobramentos na guerra entre Rússia e Ucrânia.

“Os grãos saíam pelo Mar Negro e iam especialmente para o Norte da África e para a Europa. O principal ponto é que [com o fim do acordo] esses demandantes vão ficar inseguros em relação à capacidade de manutenção da oferta da Ucrânia”, explica Bittencourt.

De acordo com o economista, o impacto nos preços deve ser sentido também em Santa Catarina.

Grãos são carregados a bordo de um navio cargueiro no porto marítimo de Azov, região de Rostov, após Rússia garantir entregas a países necessitados com o fim do acordo de grãos ucraniano – Foto: Stringer/AFP

Entenda o acordo

Desde que o conflito entre Rússia e Ucrânia começou, em fevereiro de 2022, o preço dos grãos (trigo, milho, entre outros) tem sido motivo de preocupação para o mercado.

O motivo é que o início da guerra levou a uma disparada nos preços, já que ambos os países estão entre os maiores exportadores de commodities do mundo.

Um acordo negociado em julho do ano ado entre os dois governos permitiu que a Ucrânia escoasse sua produção de grãos por uma rota alternativa, no Mar Negro, sem o impedimento russo. Em plena crise global alimentar, a tratativa reduziu os preços de alimentos em mais de 20%, de acordo com a agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO).

Revogação russa

De acordo com o governo russo, o acordo foi revogado porque as demandas para melhorar as exportações de grãos e fertilizantes da própria Rússia não foram atendidas. O país também reclamou que não chegavam grãos suficientes aos países pobres.

Putin estaria disposto a renegociar acordo, caso parte que beneficia Rússia fosse cumprida, diz porta-voz do governo – Foto: Divulgação Kremlin/ND

O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, afirmou, no entanto, que o acordo pode ser revivido se a parte que beneficia a Rússia fosse honrada.

“Assim que a parte russa dos acordos for cumprida, o lado russo retornará à implementação deste acordo, imediatamente”, disse Peskov em texto publicado pela agência russa de notícias Tass.

E o Brasil com isso?

A Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de girassol, milho, trigo e cevada, e assim que o acordo foi revogado, os preços dos produtos já apresentaram alta.

O economista-chefe da Fiesc explica que essa é uma reação normal de mercado, mas que não deve ser exagerada como foi em 2022, no início do conflito.

“Quando a guerra iniciou, a Rússia e a Ucrânia eram grandes produtores, tinham um um grande nível de oferta desses grãos para o mundo todo. Com o conflito, diversos países aram a produzir ou a investir mais na produção de trigo e milho, em especial. Um deles é o Brasil”, afirma Bittencourt.

Segundo ele, isso deve equilibrar um pouco a balança e evitar que os preços subam tanto.

Para a safra de 2023, as expectativas são positivas, e entidades do setor acreditam que os bons resultados podem contribuir para conter os preços internos do milho e do trigo.

Produção mundial de milho deve chegar a 1,2 bilhão de toneladas em 2023, principalmente pelo aumento do cultivo nos EUA e de uma boa colheita no Brasil – Foto: Ricardo Wollfenbuttel/Governo de SC/Divulgação/ND

Por outro lado, com relação ao trigo, o IGC (International Grain Council), entidade que agrupa os principais países importadores e exportadores mundiais, sinaliza uma produção abaixo do necessário para a demanda. A organização prevê que a produção de trigo fique em 784 milhões de toneladas, 2,4% a menos em relação ao ano ado.

Neste caso, as previsões de consumo globais de trigo seriam superiores em 20 milhões de toneladas em relação ao que será produzido. Esse fato, combinado com a paralisação das exportações na Ucrânia, pode gerar um aumento, a ser sentido no curto e médio prazo.

Para a Fiesc, mesmo com um impacto abaixo do registrado em 2022, existe previsão de aumento.

“O resultado vem no preço dos grãos. Então, sim, chega lá no pãozinho, por exemplo, que leva o trigo. E impacta também na dependência de importação do milho. Se a gente pensar na produção, por exemplo, de alimentos no Oeste de Santa Catarina, o milho é um componente bastante importante nos custos de produção. Então também tem mudança”, explica.

Impactos positivos

Ainda de acordo com o economista-chefe da Fiesc, existe espaço para otimismo com a situação. Isso porque as áreas brasileiras que aumentaram a produção de trigo para suprir a demanda, principalmente durante a pandemia, devem colher bons frutos.

“Quem apostou no trigo, no milho, sai ganhando. Eles vão ter aumento no preço de venda, então com uma produção maior, a renda também será maior em cima da produção que eles tinham realizado”, finaliza.

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