Mensageiro: prefeito de Imaruí diz que falava com pagador de propina sobre compra de siri

Patrick Correa (União Brasil), prefeito de Imaruí, se declara inocente do maior esquema de corrupção de Santa Catarina. A declaração foi feita na audiência de instrução sobre a Operação Mensageiro na cidade nesta sexta-feira (18).

Prefeito de Imaruí diz que é inocente

Prefeito de Imaruí diz que é inocente das acusações de corrupção  – Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/ND

Correa, que está preso, disse que só conversava com mensageiro, responsável pela entrega de propina para favorecimento da Versa engenharia (antiga Serrana), sobre assuntos lícitos.

“Eu já me encontrei com ele, mas lá em Imaruí a propina não chegava. Já conversamos sobre a istração de água e coleta de lixo. Já conversamos também sobre compra de siri e camarão, mas elas foram poucas vezes”, declara.

Ainda em seu depoimento, Correa alega que chegou a mandar um servidor da prefeitura procurar um terreno para que a Serrana fizesse aterro sanitário em Imaruí, mas que não recebeu propina para isso e o projeto não foi executado.

Prefeito diz que é perseguido

O prefeito de Imaruí declarou ainda que se sente perseguido politicamente pelos funcionários da Serrana que o acusam de participar do esquema de corrupção.

“Eu penso assim ó, eu como prefeito tratei com várias pessoas. Em uma vez a gente conversou e talvez na Serrana tenham pessoas corruptas. Parece ser uma perseguição política”, declara.

O político disse ainda que apesar de ter cartão de crédito e conta bancária usa “apenas dinheiro vivo”.

Foi por isso que, segundo ele, foram apreendidos R$ 10 mil em seu gabinete.

Já o mensageiro, que era responsável pela entrega dos valores das propinas aos municípios, diz que entregou o dinheiro de propina para Correa e explicou o esquema.

Prefeito de Imaruí diz que não recebeu propina

Mensageiro diz que entregou dinheiro para prefeito de Imaruí – Foto: Gaeco/Reprodução/ND

“Eu recebia o envelope e vinha o nome da cidade e uma folha de um papel com o nome e telefone de quem receberia. Então, eu ligava e ava uma mensagem, falava onde eu estava e entregava o envelope com o dinheiro dentro”, ite.

Respondendo à perguntas da desembargadora Cinthia Beatriz Bittencourt  Schaeffer, o mensageiro disse que não buscava saber a origem do dinheiro e que “apenas cumpria ordens”.

Estratégias de fuga

Segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime de Santa Catarina), o mensageiro (que entrega a propina aos políticos) em uma das vezes que era seguido, percebeu a presença dos agentes enquanto fazia uma das viagens para Imaruí, para entregar propinas ao prefeito Patrick Correa.

Já o mensageiro garante que não sabia que estava sendo seguido, mas que achava que seria roubado.

“Eu achava que seria assaltado, por isso comecei a acelerar o carro”, conta.

De acordo com o Gaeco a estratégia foi a seguinte:

O mensageiro percebeu que estava sendo seguido e então “marcava” quais carros estavam atrás dele, depois, acelerava o carro e via se os mesmos veículos o seguiam.

Ao confirmar que era seguido, o mensageiro chegou a parar em um posto de gasolina no caminho e ficar dentro do carro por 15 minutos.

A região sul

Outro funcionário da Serrana, que negociava com políticos na região sul do estado, também foi ouvido na tarde desta sexta (18). O homem confirmou a versão do dono da empresa, que disse que Patrick Correa (União Brasil), prefeito de Imaruí, pediu R$ 10 mil para que a empresa continuasse como responsável pela coleta de lixo na cidade.

“Eu encontrei com o prefeito. Entrei na sala dele, tirei o envelope da mochila e disse: ‘o que o senhor queria da Serrana está aqui’. Eu falava muito pouco com ele, só oi, tchau, e combinávamos o dia”, diz.

De acordo com o homem, o primeiro contato feito foi de Correa, que o teria chamado para saber sobre a entrega de propina.

“Eu entreguei o dinheiro em um envelope na mão dele, com dinheiro vivo no valor de R$ 70 mil. Eu reiterei para ele que o valor combinado estava ali. Ele já estava esperando”, fala.

O funcionário confirmou que o total da propina recebida por Patrick Correa foi de R$ 160 mil.

O advogado do prefeito afirmou que pediu a revogação da prisão preventiva de Correa, que deve ser analisada nos próximos dias.

O motoboy da propina

O terceiro depoimento da tarde foi com outro funcionário da Serrana, que está solto e prestou depoimento no Fórum de Justiça de ville. Era ele o responsável por sacar o dinheiro de notas frias emitidas para lavar o valor em espécie do esquema de corrupção.

“Nunca conheci o prefeito de Imaruí, mas eu sabia que o dinheiro sacado era para pagamento de propina para políticos. Eu só fazia arrecadação das notas e pegava o dinheiro vivo”, fala.

De acordo com ele, apesar de saber da propina não sabia para quem ela seria entregue.

“Eu recebia o salário de R$ 8,3 mil para fazer os saques. Eles eram retirados dos valores das notas frias. Eu entregava o dinheiro e eles me pagavam. Eu prestava contas por meio das planilhas [que registravam as propinas]”, relata.

A planilha

“A gente tinha uma planilha, que apagamos após a operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). Lá estava todo o dinheiro que a gente pagava por gestão. A planilha ficava em um pen-drive e a gente ava apenas em computador específico”, conta o dono da Serrana Engenharia.

O pen-drive ficava dentro de um grampeador, na sala do dono da empresa. Segundo ele, apenas duas pessoas tinham o ao item, ele e uma funcionária.

Neste ponto, é importante lembrar que não somente o prefeito de Imaruí estaria envolvido, mas ao menos outros 16 prefeitos, que já estão presos.

Há ainda prisões de funcionários da Serrana, que participavam do esquema. Segundo o Gaeco, novas fases da operação não estão descartadas, podendo então gerar mais prisões.

O próprio dono da Serrana afirma que havia esquema em ao menos 35 cidades catarinenses. Nessas cidades, políticos e funcionários da Serrana lucram para favorecer a empresa.

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